domingo, 10 de janeiro de 2016

O JOGO

Há pessoas que aparentemente funcionam bem, que se adaptaram a este sistema. Mas não deixam de ter os seus tiques mecânicos, robóticos. Nós, pelo contrário, já tivemos grandes depressões e, não raras vezes, andamos entediados. Porque, de facto, poucas coisas nos entusiasmam. E, no fundo, achamos absurdo jogar este jogo, preferimos atirar a bola para fora. No fundo, é uma questão de safanço, de luta ridícula pelo lugar, pela existência. Um homem nobre não se sujeita a essas coisas, um homem ou uma mulher nobre busca as alturas. É, de facto, absurdo ver o pessoal a atropelar-se na escola, no trabalho, ver o pessoal a sacrificar-se em troca de mais uns trocos. Isso não é vida, é sub-vida. É o mundo do negócio e da compra e venda. As pessoas, em vez de procurarem o amor, a liberdade e a poesia, sujeitam-se ao controle da tecnologia, à lavagem cerebral dos media, ao império da finança e da linguagem vazia da finança. Os próprios políticos utilizam uma linguagem quase exclusivamente económica, deixando de lado as novas formas de exploração e alienação. Sabendo que há cada vez mais depressões, doenças mentais e suicídios, não percebemos como não há mais explosões anticapitalistas. As pessoas estão muito sós ou divididas em grupos fechados, já não há movimentos significativos e os partidos falam uma linguagem distante. É necessária uma nova linguagem que fale dos problemas do homem e da vida, ou seja, destas questões que temos levantado. É necessário que o homem seja senhor de si mesmo, sem deuses nem chefes. Porque não faz sentido este medo, este andar alinhadinho, esta falta de liberdade. Não há aquele golpe de asa. Não há aquele murro na mesa. Há os tablets e os smartphones. Não há a ágora. Não há Sócrates nem Platão. Não há Atenas. Poucos discutem verdadeiramente a vida.

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