sábado, 23 de janeiro de 2016

A CONFISSÃO

Nestes dias têm-me dito coisas bonitas. Mas vejo as minhas amigas controladas pelo trabalho. Ficam stressadas, não têm tempo, pouco saem. De facto, a máquina vai matando a vida. Eu, por mim, sigo o meu percurso, ouço os tais elogios e também as críticas e os insultos. Tanta coisa já se disse de mim, tanta coisa, meu pai, mas eu prossigo viagem. Não tenho Deus nem amos. Posso dizê-lo hoje. Vou aos sítios dizer poesia. Umas vezes sou mais aplaudido do que outras. Observo os outros. Estudo os livros. Às vezes sou agressivo nas discussões. Gosto de trocar ideias com pessoas que as têm. Sou acusado de ser narcisista mas também se não o fosse minimamente já teria dado um tiro nos cornos. O meu pai transmitiu-me o sentido da justiça. Por isso odeio essa corja de moedeiros, de vendilhões que controlam e decidem. Odeio mesmo. Nem sequer os considero humanos. Vou votar na Marisa porque é inteligente, rebelde, bela e afectuosa. E, de facto, meus amigos, cheguei a um ponto onde já nada há a perder. Time is on my side. Se não apanhar uma cirrose continuarei aqui por uns anos. Há livros a publicar, mensagens a passar. Eu sei que às vezes sou um mau rapaz, um arruaceiro até mas não poderia ser sempre o rapaz dos 17 anos. E fica dito isto em jeito de confissão. Como o fariam Rousseau, Nietzsche ou Voltaire, sem me querer equiparar a eles. Julgo que posso vir a ser um filósofo. Tenho a paixão das ideias, do conhecimento, da sabedoria. Não em todas as áreas, claro. No entanto, efectivamente, vim para isto. Não vim atrás de riquezas. Sou um homem de pensamento. Não que não seja também um homem de acção, em certas circunstâncias. 
Neste momento apoio o governo de António Costa, suportado pelo Bloco e pelo PCP, apoio as medidas sociais que tem adoptado mas é evidente que o vejo como uma solução transitória, especialmente agora que me reconverti ao anarquismo e que vejo a democracia burguesa como uma farsa. Aliás, hoje, 22 de janeiro de 2016, proclamo que nem deveria existir governo nenhum, nem deveríamos delegar os nossos poderes em deputados, governantes ou seja lá quem for. Que os parlamentos, quando muito, servem para propagandear as nossas ideias, como defendia Rosa Luxemburgo. Que as pessoas se deveriam organizar em comunidades livres e autónomas sem Estado. Que a vontade da maioria muitas vezes não é a mais esclarecida, que não é o número que deve decidir mas a razão ou o saber. E aqui estou eu em Vilar do Pinheiro, na confeitaria, a escrever para alguns que me conhecem, para outros que me desconhecem. Alguns vão elogiar este texto, outros o criticarão. Mas mais genuíno não poderia ser.

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