quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A VIDA ÚNICA

Cada um de nós veio para o mundo para viver a sua vida que é única. Contudo, segundo Agostinho da Silva, o nosso sistema educacional e o sistema capitalista global impedem-no, empurrando-nos para um trabalhinho que garante o salário mensal mas que não nos proporciona a missão de criadores, de tomarmos a iniciativa, de vivermos livremente a vida. A própria universidade serve para tirar cursos, para alcançar canudos, não para formar homens e mulheres. Forma, sim, essencialmente técnicos, especialistas, homens cuja linguagem deixa de ser inteligível para outros homens. Na escola as humanidades, a filosofia, são relegadas para segundo plano, desprezando-se o questionamento e o verdadeiro debate de ideias. Reinam o caos e a confusão, apenas refreados pela moral judaico-cristã. A ignorância, a manha e o chico-espertismo são premiados. A coesão é meramente artificial. Vivemos na civilização da concorrência, do combate, da mera luta pela vida, da batalha pela sobrevivência, como na selva. Poucos mantêm a dignidade. Poucos estão conscientes. Poucos mantêm em si a criança que faz o milagre de conseguir que o tempo desapareça.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A NOVA LINGUAGEM

Não falarei mais a linguagem dos partidos. Não falarei mais a linguagem da economia. Falarei como Jesus, Sócrates ou Nietzsche. Chegou a minha vez de me dirigir aos homens e às mulheres. Venho combater os mercadores e os vendilhões do templo. Mas também o homem pequeno que trepa e inveja. Amo as mulheres belas, mesmo que elas amem o ouro. Amo a liberdade e a justiça. Procuro o ser e não o ter. Todavia, vejo as pessoas separadas, fechadas em grupos, muitas isoladas. As próprias conversas normalmente não são elevadas, são triviais, corriqueiras. Está tudo cheio de medo do papão. De perder o emprego, de perder o cargo, de perder o dinheiro. As pessoas não se movimentam à vontade. Andam controladas. Só alguns escapam. E mesmo esses, algumas vezes, têm problemas de solidão ou de dinheiro. Ainda assim são homens e mulheres livres. Não obedecem a ordens nem têm patrões. Nem sequer têm nada a perder. É aqui que cheguei. Posso dizer e escrever tudo o que me apetece. Posso insultar o governo, o Presidente, os banqueiros, os empresários, os especuladores, a Merkel, o Obama. Posso gozar com esta merda toda. Posso dizer que o caos está próximo, como disse na RTP. É claro que preciso de um pouco mais de atenção, é claro que preciso de mais companheiros. No entanto, sei que digo o que poucos dizem. No entanto, sei que há forças suficientes para formar, quiçá, um novo partido ou um novo movimento. Porque sei que há gente descontente, gente que também põe em causa a linguagem dos partidos. Gente que pensa mais ou menos como eu.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

QUE REINEM DIONISOS E AS BACANTES!

A mulher dos livros apareceu e quer mesmo comprar os meus livros. Como Bukowski tenho que manter uma disciplina de escrita. E escrever estórias, nem que sejam auto-biográficas. A confeitaria está quase deserta. É Natal e o Natal nada me diz. Preciso de outro café senão morro de sono. Acordei muito cedo. A Ana tira bem os cafés, curtinhos. As mãos tremem. Têm dificuldade em segurar a chávena. Talvez acabe como o Bukowski. Pelo menos vou aparecendo nos media. Vamos ver o que dá o "Beat". Que tenho talento já não tenho dúvidas. Queria ir viver para Braga para junto daquela de que tanto gosto. Para isso precisaria que os jornais me pagassem mais. No entanto, não há dúvida de que estou no bom caminho. Mais tarde ou mais cedo a coisa vai estoirar. Sou um gajo porreiro, um tipo sincero mas também um indivíduo perigoso. Agora até tenho um jornal, "A Rebelião". Não sei, não sou como os outros. Quando começo a beber a valer quero a festa permanente, o banquete permanente, não este tédio, não esta falsa alegria. Sim, eu vou alcançar as alturas. Não me contento com mediocridades. Fui lançado para aqui pelos céus, fui abençoado. Agora compreendo. Outros, outras também o foram. Uma minoria. Essa minoria já sofreu muito. Não fomos feitos para a norma, para a ordem, para a troca. Queremos caminhar livres. Queremos dançar. O dia é nosso. A noite é nossa. Evoé! Que reinem Dionisos e as bacantes!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A LAVAGEM CEREBRAL

Segundo Erich Fromm, existem métodos de lavagem cerebral na publicidade comercial, industrial e política. Graças a esses métodos compramos coisas que não necessitamos e elegemos políticos que não queremos. O que é pior é que a grande maioria de nós não é senhora da sua mente devido a métodos hipnóides empregues para nos doutrinar. Esses métodos hipnóticos utilizados na propaganda comercial e política constituem um grave perigo para a saúde mental, nomeadamente para o pensamento claro e crítico, bem como para a independência emocional. Trata-se de um fenómeno imbecilizante.
A própria informação, na melhor das hipóteses, refere-se apenas à superfície dos acontecimentos, e raras vezes dá aos cidadãos uma oportunidade de ir além da superfície e de identificar as causas profundas dos factos. A venda de notícias é encarada como um negócio como qualquer outro. Ou seja, estamos perante um sistema fascista que nos controla e estupidifica e poucos têm consciência disso. Tudo é feito no sentido de nos formatar e de nos fazer a cabeça. Permitem-nos beber uns copos, assistir a uns espectáculos, ir a umas festas mas logo voltamos à máquina. Por outro lado, as pessoas sentem-se cada vez mais deprimidas. Sentem o isolamento, a impotência, a vida vazia do consumo e da futilidade, a falta de sentido da vida. É preciso ser, dar, participar e compreender em vez de andar atrás do lucro, do poder, do sucesso. É necessário ler, estudar, desfrutar, procurar, descobrir, amar em vez de competir e lutar. É necessária uma "religiosidade" sem religião que vai de Buda a Marx mas é necessário também um grande grito, um grito que acorde aqueles que estão doentes, que parecem mortos, é necessário um grito profético que derrube muros e muralhas porque, de facto, estamos quase perdidos como espécie.

sábado, 19 de dezembro de 2015

O AQUI E AGORA

Contrariamente ao que possa parecer, as pessoas essencialmente movidas pela avidez de dinheiro ou posses são basicamente doentes, segundo Spinoza. Ora, a sociedade capitalista é uma sociedade doente, onde o sucesso depende do modo como as pessoas se vendem bem no mercado, do modo como impõem a sua personalidade. Depende do facto de serem joviais, sadias, agressivas, ambiciosas ou "honestas". Ao vender a sua personalidade, o ser humano sente-se e é uma mercadoria, sendo, ao mesmo tempo, o vendedor e a mercadoria a ser vendida. A pessoa desinteressa-se pela sua vida e felicidade, preocupando-se apenas em ser vendável. As questões filosóficas ou associadas ao sentido da vida não constituem preocupação para essas pessoas. Eis a podridão a que chegámos. Podridão e doença. Afinal, os loucos, os inadaptados é que estão perfeitamente sãos. Afinal, o que importa é o ser, o aqui e o agora. De acordo com Erich Fromm, redigir as ideias dá-se no tempo mas concebê-las é um acto criativo intemporal. A experiência do amor, da alegria, da apreensão da verdade, não ocorre no tempo, mas aqui e agora. O aqui e agora é eternidade.
Na sociedade mercantil o tempo reina. Cada acto tem que ser rigorosamente cronometrado. Além disso, o tempo é também dinheiro. Mais terrível ainda: os nossos valores superiores ainda estão associados à masculinidade- ser mais forte do que os outros, sair vitorioso, conquistar outros povos e explorá-los. Para Aristóteles, pelo contrário, a mais elevada forma de práxis, de actividade, é a vida contemplativa, dedicada à procura da verdade. Daí que tenhamos que virar este mundo de pernas para o ar. Acabar com toda a alienação, com toda a lavagem ao cérebro, com toda a publicidade. Isto precisa mesmo de uma limpeza geral. Ousemos. Provoquemos. Desafiemos. Derrubemos todos os poderes.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

ESTA NOITE CRESCI 1000 ANOS

Esta noite cresci 1000 anos. Damásio indicou-me a imortalidade. Ceei com Zeus e Afrodite. Nunca mais serei o mesmo. Combati ao lado de Aquiles e Ulisses. Amo os meus companheiros e as minhas companheiras. Pernoito na casa da amada. Aguardo pelo dia. Nunca mais é dia. Prossigo o poema. Braga, rua Nova de Santa Cruz, 195, 2º, dezembro de 1995. 20 anos. A minha casa. A casa onde amei. Eram sonhos, era a vida. Agora estou aqui. Renascido. Pleno de vida. Com iluminações, vozes e fantasmas. As pessoas olham-me. Tantas noites, tantas vidas. Ácidos e mescalina. A chuva bate. Nunca mais é dia. Sou o mais louco dos homens. Possuo também a sabedoria. A sabedoria selvagem e a sabedoria olímpica. Estive muito tempo calado, a ouvir os outros. Aprendi muito ao balcão a beber cervejas. Agora estou curado.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A REVOLUÇÃO POR SI MESMA

Segundo Simone de Beauvoir, o revolucionário "quer a revolução por si mesma, procura através dela a afirmação da sua liberdade e da sua transcendência". Não procura somente o dia a seguir à revolução. O homem é o único soberano e senhor do seu destino, mas apenas se quiser sê-lo. De facto, nós procuramos o orgasmo da revolução, o aniquilamento dos poderes, a festa. E queremos ser senhores do nosso destino, das nossas vidas, não queremos entregá-las aos senhores do dinheiro, aos políticos castradores, aos especuladores, aos senhores dos media e da lavagem ao cérebro. Por isso caminhamos livres, sem obrigações nem chefes, por isso dizemos e escrevemos o que nos dá na real gana, por isso não temos medo. E prosseguimos a viagem a incomodar, a provocar, a insultar os chacais, os abutres e os carneiros. Por isso somos loucos divinos. E amamos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

MANIFESTO ANTI-MARCELO

O Marcelo é telegénico
o Marcelo é fotogénico
o Marcelo é papel higiénico
o Marcelo é um comunicador
O Marcelo sabe muito
o Marcelo fala de tudo
o Marcelo é professor
O Marcelo é um fala-barato
o Marcelo é um porco aquático
o Marcelo é um encantador
O Marcelo é um demagogo
o Marcelo engana o povo
o Marcelo está no polvo
o Marcelo é um engraxador
O Marcelo é janota
o Marcelo veste fatiota
o Marcelo é cor-de-rosa
o Marcelo é um estupor
O Marcelo lidera as sondagens
o Marcelo cuida das imagens
o Marcelo dá palpites
o Marcelo tem apetites
o Marcelo é hiperactivo
o Marcelo é radioactivo
o Marcelo é tóxico
o Marcelo é veneno
morra o Marcelo
morra, pim!
O Marcelo julga que tem piada
o Marcelo é uma anedota
o Marcelo dá-se com os patrões
o Marcelo dá-se com os senhores dos milhões
o Marcelo anda aos trambolhões
o Marcelo é um cota
o Marcelo é um idiota
morra o Marcelo
morra, pim!
O Marcelo já se julga presidente
o Marcelo está demente
o Marcelo mente
o Marcelo esbraceja
o Marcelo cacareja
o Marcelo é um telemóvel
o Marcelo é um automóvel
o Marcelo é o que faço dele.
O Marcelo é uma foca
O Marcelo é uma fofoca
o Marcelo vai ao "Big Brother"
pregar aos imbecis
o Marcelo é marmelo
o Marcelo é martelo
o Marcelo é caramelo
o Marcelo não serve
o Marcelo não presta
morra o Marcelo
morra, pim!

A HUMANIDADE EM PERIGO

A Humanidade e a Terra estão em perigo. A quantidade de emissões de dióxido de carbono (CO2) até agora lançadas na atmosfera, que corresponde a um aumento de 0,85 º C é suficiente para fazer derreter metade das calotes polares do Ártico e causar cada vez mais secas extremas, inundações dramáticas e tempestades terríveis, ou seja, grandes catástrofes naturais. Segundo o teólogo Leonardo Boff, as sociedades mundiais continuam obcecadas pelo ideal do crescimento ilimitado, medido pelo PIB. Falam em desenvolvimento, mas na verdade o que buscam é o crescimento material. Para Michael Lowy, co-fundador do eco-socialismo: "é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial leva-nos a um desastre ecológico de proporções incalculáveis. A dinâmica do crescimento infinito, induzida pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos da vida humana no planeta". A questão central não está, como viu o Papa Francisco, na relação entre crescimento e natureza. Mas entre ser humano e natureza. Este não se sente parte da natureza, mas seu dono, que pode dispor dela como quiser. Não cuida dela nem se responsabiliza pelos danos da voracidade de um crescimento infinito com o consumo ilimitado que o acompanha. Assim caminha célere rumo a um abismo, pois a Terra não suporta mais tanta exploração e devastação. Como na Cimeira do Clima em Paris não foram tomadas medidas drásticas, dados os interesses instalados, os próximos 20 ou 30 anos poderão ser caóticos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

NADA NOS VAI PARAR

Os tempos são mesmo de caos e barbárie. A extrema-direita de Marine Le Pen venceu as eleições regionais francesas. O fascismo contra o diferente, contra os imigrantes, contra os refugiados ganha terreno. Os chacais nazis cerram os dentes. Na Venezuela a revolução do comandante Hugo Chávez e de Maduro perde terreno para a máfia capitalista. É uma guerra esta que travamos. Entre a vida e a morte. Entre o socialismo e a direita trauliteira e fascista. Entre a castração e a liberdade. Entre a manha e a justiça. Não cederemos. O mundo é nosso. Usaremos o caos a nosso favor. Já lá estivemos várias vezes. Não suportamos mais estes gajos. Não suportamos mais as suas fortunas, os seus bancos, as suas empresas. Vimos de outros mundos. Nascemos sob a tal estrela. Seguiremos Chávez , Fidel e o Che mas também Bakunine e Kropotkine. Estivemos muito tempo calados. Agora é a nossa hora. Tomaremos as ruas e as praças. Ocuparemos bancos, palácios e assembleias. Empurrá-los-emos para fora da vida, a esses imbecis endinheirados. Um novo mundo nascerá. Um mundo de amor, liberdade e celebração. Sim, nós somos os primeiros homens. Nós nascemos para criar e transformar. Do caos nascerá a luz. Nós amamos loucamente as mulheres belas. Nada temos a ver com a ditadura tecnológica. Renegamos o império financeiro e mediático. Não suportamos o consumismo do Natal e o consumismo em geral. Sim, vimos de longe. Descemos a montanha com Zaratustra. Viemos para junto dos homens. Uns amam-nos, outros odeiam-nos. Temos que nos habituar a isso. Como Sócrates, como Jesus. Começamos a ganhar fama. Aqui em Braga. A nossa cidade. A cidade onde crescemos. Onde conhecemos a noite e a mulher. Aqui reinamos. Aqui somos soberanos. Agora nada nos vai parar.