sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

RITA

Olho para ti
E escrevo
Ao balcão
És rainha
Trazes cafés
Cervejas
Bandejas
Sabes, sou o mais
Louco dos poetas
Já apareci bêbado
Caído na estrada
Já ocupei hipermercados
Já derrubei estátuas
Sabes, não sou
Como os outros
Já quando era miúdo
Pensava muito
Era o mais inteligente
O melhor aluno
Agora só tenho pena
De não ter mais uns trocos
Para ficar de bar em bar
De cerveja em cerveja
De qualquer maneira,
Tu já quebras
A monotonia do dia-a-dia
Lembras a Paulinha
E eu deixei de ser
Um poeta lírico
Escrevo o que penso
E o que sinto
Raramente emendo
Sou um mau rapaz
O último dos poetas de café
O último dos beats
Bebo cerveja
E desejo-te
Não tenho aquela vida
trabalho-casa
Sou um homem livre
Um poeta só
Com Nietzsche à minha frente
E o rock n’ roll
No centro comercial
Sabes, eu era o menino de ouro
O menino da mamã
Depois apanhei umas patadas
Tornei-me agressivo
Tornei-me maldito
Insulto Deus e o Poder
Procuro a mulher
Talvez venha a ser reconhecido
Como poeta maldito
E animal de palco
De certa forma já o sou
Mas ainda não tenho
Os dias preenchidos
O Natal na Terra de Rimbaud
Sim, vou aos bares
Bebo uns copos
Converso com este e aquela
Mas depois há dias como este
Em que venho até aqui
E depois regresso a casa
Ao computador
Não há aquele brilho
Não há a celebração
Estás aqui tu, é certo
Mas tens os teus clientes
Os teus afazeres
Não, não me sinto
Como Morrison ou Rimbaud
Reino a espaços
Falta algo
O banquete
O estarmos unidos à mesa
A comemorar
Nada além disso
A ceia
A primeira ceia
Nada de homens médios
Nada de homens pequenos
Nada de medos
O homem pleno
Na hybris
Na desmesura
Na aventura
O homem-deus
Que cria
Que se afasta
Dos carneiros
Que voa
Como a águia
O homem livre
Que vai ao infinito
E volta
O homem
No café
Que bebe
E te aguarda.






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