segunda-feira, 10 de março de 2014

MULHERES, PORQUE DAIS À LUZ?

Estou em Braga, n' "A Brasileira". Tenho saudades dos tempos em que passava vários dias seguidos em Braga. Aqui sinto-me em casa. Aqui conheci a noite e a vida. Tinha a casa na Rua Nova de Santa Cruz. Vadiava por aqui. Era livre. Há dias em que ainda o sou. As pessoas reúnem-se aqui. Não trabalham. Mas também não discutem filosofia, tanto quanto sei. Não discutem o homem virtuoso nem o homem revolucionário. Não se apercebem que o pensamento é o mais importante. Que todos os dias somos bombardeados pelos media e pelo capitalismo. Que o trabalho é um meio e não um fim. Apesar de tudo, as pessoas riem. Talvez algumas delas se aproximem da vida pela vida. Sou um escritor. Tenho de escrever, de trabalhar. Começo a ter doenças mas ainda não estou velho. As pessoas fazem-se à vida. Passam a vida a sobreviver, a ganhar a vida, a correr atrás do dinheiro. Não foi para isso que viemos. Viemos para o amor, para a liberdade, para a sabedoria. Interrogo-me sobre o homem, sobre o que é o homem. Penso. Desde criança que penso. Não faz sentido passar a vida a trabalhar, a sacrificar-nos. Não faz sentido viver castrado, oprimido. Não faz sentido não dizer o que se pensa. Faz sentido seguir Jesus, Sócrates, Dostoiewski. Faz sentido amar, desenvolver a nossa inteligência. Faz sentido ter consciência da grande lavagem ao cérebro. Faz sentido a revolta. Faz sentido conhecer. Faz sentido a arte, a cultura. Já há 27 anos e antes me debruçava sobre estas questões. Sabia menos. Não tinha levado as patadas que levei. Mas as pessoas vão trazendo novas crianças ao mundo. Ainda acreditam. As crianças depois brincam mas cedo são formatadas pela máquina. Só umas poucas se libertarão. Algumas delas cometerão suicídio porque acharão a vida insuportável. Só se fala em números e na economia. Revoltei-me contra os números e contra a economia. A cabeça não encaixa os números e as percentagens. Daí que ponha em causa a minha militância no partido. Sou um artista, um intelectual, não tenho de desempenhar certas tarefas. Escrevo, publico, recito, provoco. Eis o que vim fazer ao mundo. Há mais alguém que escreve. Habituei-me aos cafés. Mulheres, porque dais à luz?

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