quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O POETA

O poeta está melancólico. Perdeu a pica. Se tivesse dinheiro, beberia para se animar. O poeta está só. Precisa da menina. O poeta está no Piolho. A cidade não o põe em cima. Começa a ficar em depressão. Pelo contrário, o outro poeta está cheio de gás. Escreve sem parar. O poeta está triste. O mundo é triste, o homem transformou o mundo num tédio, numa tristeza. O homem não é total. Nem o poeta, mesmo que lhe chamem livre. O homem está partido em pedaços. Não brilha. O poeta também não. Escreve para combater a melancolia. Às vezes preferia ser menos inteligente, ter menos capacidades para não sofrer tanto. O poeta sofre. Talvez quando vier o lançamento do próximo livro se sinta melhor. Costuma ser assim. Novo livro, novo ânimo. O poeta é da cidade. Vive-a. Mas hoje está definitivamente triste. Ensonado. Nada do que escreva o faz levantar. Ou talvez faça. Se se revoltar dentro de si mesmo. O poeta dá luta à depressão. Escreve. Observa os empregados de mesa. O Adriano traz o sumo. O poeta está quase sem dinheiro. Apetece-lhe berrar. O poeta está sem ninguém. Olha os espelhos, as portas, a gente que entra. O poeta vê-se ao espelho. Tem uma boa figura. Fica bem na imagem, na televisão. Apetecia-lhe beber. O poeta não é o único solitário. Passa horas no Piolho. Agora tem de aturar o gordo atrasado mental do concurso. Precisava da Gotucha. O Piolho começa a encher. Mas isso não alegra o poeta. O poeta que observa. O poeta que, mesmo melancólico, não se converte. A máquina não lhe faz a cabeça. O poeta que resiste. O poeta que ri.

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