sexta-feira, 13 de abril de 2012

ÀS PORTAS DO NOVO MUNDO


Ao longo destes anos, não obstante as minhas aparições públicas, tenho sido o homem da solidão. A solidão permite-me pensar, observar o mundo, tirar conclusões. Como diz o dr. Jorge Marques, ganhei uma ocupação. Apesar de nos últimos 20 anos ter estado sobretudo com a Gotucha, tenho sido o homem da solidão e da escrita. Haverá poucos como eu no mundo. Bem sei que há escritores profissionais mas estou certo que poucos vivem a escrita como eu. Eu vivo aquilo que escrevo. Escrevo ao ritmo do coração. Combato a depressão. Falo com a D. Rosa de coisas aparentemente triviais. Tomo três cafés, bebo cerveja. Realmente debruço-me sobre o mundo. E o entusiasmo e a vontade voltam. Aparentemente pouco se passa. Os carros passam lá fora. A televisão passa mulheres boas. A empregada da confeitaria recolhe as chávenas. Um homem fala ao telemóvel. Outro homem, que é escritor, escreve. O talho em frente. A revolução não é aqui nem é hoje. Por isso, o homem questiona os próprios revolucionários. Pensa que a maior parte deles ainda não compreendeu a dimensão do problema. É o próprio homem que está a ser destruído. O capitalismo dos mercados altera o homem, retira-lhe a dimensão do êxtase, do amor, da poesia. É certo que há homens que nunca tiveram essa dimensão mas os jovens, as crianças poderiam atingi-la. Esta máquina se não os atira para o conformismo, para o niilismo, atira-os para o caos, para a barbárie. E os revolucionários andam demasiado ocupados com a economia, com os bolsos dos trabalhadores e esquecem a alma. Precisamos de homens de alma, nobres, só os homens de alma serão capazes de se libertar da influência da máquina, de a pôr em causa, de se unirem contra a máquina. Será realmente necessária uma revolução no pensamento, uma verdadeira emancipação dos homens. Como já vem acontecendo em Atenas e Barcelona. A palavra de ordem é mesmo desmontar a máquina que nos atiram todos os dias à cara via TV, via outros media. Não podemos ficar à espera de maiorias. Só uma grande minoria tomará consciência da situação. Digamos que uns 20% serão suficientes. Não deixemos que os banqueiros, os especuladores e os economistas assassinem o homem. Ergamos a espada do amor, da fraternidade, da criação, da poesia, do pensamento, da filosofia. Só assim lá chegaremos. Pensemos realmente no que se está a passar, no que nos estão a tirar. Pensemos realmente que eles são os inimigos da vida. Pensemos realmente que isto não pode cair na barbárie ou na ditadura. Pensemos que está tudo nas nossas mãos e nas nossas cabeças. Matemos o capitalismo dentro das nossas cabeças. Entreguemo-nos ao amor, à arte, à poesia. Derrotemos os nossos inimigos internos e externos. Pensemos. Pensemos realmente no que está em jogo. Sejamos lúcidos mas não deixemos que eles nos roubem também a nossa loucura. Estamos às portas do novo mundo. Não o esqueçamos. Ele está nos nossos corações e nas nossas mentes, nas nossas almas. Acreditemos. Espalhemos a Boa Nova.

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