quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

VEM, MUSA


Esta gente fala, fala e não diz nada. Dinheiro, netinhos e saúdinha. Acho que nem sequer são da minha espécie. Não sou deles definitivamente. Nem sequer sou de Deus, do deus deles. Não me venham com a história dos fracos e dos oprimidos! Eu só quero altura! Venham a mim as criancinhas. Talvez elas entrem no reino. Não, essas caras de gentinha não me convencem. Dai-me algo mais. Dai-me a luz. Não sois capazes. Porque não vens, ó mago irmão? Porque não vens, ó deusa? Canso-me da aldeia, canso-me do Sancho Pança. Onde está a minha mulher, o meu homem? Onde está aquele que traz a verdade? Quem sou eu, aqui há 43 anos, às portas do apocalipse e da sabedoria louca? Nada criais. Cansais-me com as vossas conversas. Nada acrescentais. Nada me dais. Nem vinho. Não, não sou do negócio. O vil metal nada me diz. Aparece tu, mulher bela, aparece tu, que eu estou a dar em louco aqui. Só te vejo na televisão. Há outro mundo. Outra vida. Estou com Rimbaud. Reino. Sou realmente o poeta. Aquele que anuncia o novo mundo. Quem me segue? Quem percorre os desertos? Musa, porque não vens para mim? Surpreende-me. Estou farto de ver mortos. Satisfaz a minha alma, a minha mente. Vem, encanta os meus dias e as minhas noites. Sim, há outra vida. Sinto-a. Vejo-a. Quero-a.