segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O GRANDE FOGO INTERIOR


Depois de Cerveira regresso aos "Sonhos de Verão". De facto, tenho estado do lado da consumação, da poesia, da despesa, do desperdício, da loucura e não da economia, do útil, da poupança. Arde em mim o "grande fogo interior" de que falam George Bataille e Edgar Morin. Tenho corrido riscos, tenho tomado decisões com desrazão, tenho seguido o amor, a dança, a música. Tudo isso me tem defendido de um mundo técnico, mecânico, gelado, cronometrado, onde tudo se passa. Tenho estado claramente do lado da poesia, "da participação, do fervor, da admiração, da comunhão, da bebedeira, da exaltação", como diz Edgar Morin. Mesmo que os meus escritos às vezes sejam meramente descritivos. Sim, creio no amor e na poesia. A partir dos 17/18 anos tomei essa opção, mesmo que depois passasse por grandes depressões e me fechasse muito em mim próprio. Não sou, de facto e definitivamente, do trabalho, dos horários, das obrigações. Talvez por isso esteja aqui na confeitaria a escrever um texto que sei que alguns lerão, talvez por isso de há uns seis anos a esta parte me dedique em exclusivo à escrita e à declamação. Talvez por isso me consiga afastar da máquina e dos que se deixam levar por ela. Talvez por isso, desde que frequentei a Faculdade de Economia do Porto, tenha ganho asco às palavras "lucro", "finança", "mercado", "empresário". Porque acredito mesmo no "grande fogo interior", na arte, na criação pura e sou capaz de insultar os deuses. Sei também que o "homo demens" de Morin, o libertar das pulsões, pode levar à maldade, aos instintos mesquinhos mas também ao amor, à criação. Sei definitivamente que há domínios da vida onde a economia e a ciência não chegam.

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