quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DO POETA

O poeta está em casa. À mesa do jantar. São cinco da madrugada. Por enquanto, o poeta fez o que tinha a fazer. Tem visões, iluminações. Atira-se para o chão. É Deus e Jesus. A humanidade cresce nele. Vive o assalto final a Lisboa. A revolução. Vive-a fisicamente, não apenas intelectualmente. O poeta ressuscita as pessoas depois de as ter matado. Ergue e baixa o polegar como um imperador no Coliseu. Está agora em Londres. Vê quadros dos renascentistas italianos na National Gallery. Vê quadros de Rubens e maravilha-se. O poeta quer a arte pela arte. É o artista e o conquistador de Nietzsche. É egoísta e tem o sentido da terra. Não defende os pobres e os oprimidos. Os que se deixam levar pela máquina e pela submissão. Exalta, sim, os vencedores, aqueles que venceram o rebanho e o medo, aqueles que cantam a arte e a embriaguez. O poeta é Dionisos. Dança com os índios em redor da fogueira. Mas não deixa de ser um cavaleiro, um nobre de Camelot. Tem a sua honra. Defende a dama. O poeta é dos grandes. O poeta é quem quer ser.

2 comentários:

M. disse...

A lucidez é o que de mais terrível há.
Abraço,
Madalena

A. Pedro Ribeiro disse...

abraço.