quarta-feira, 23 de novembro de 2011

NÃO TE CUIDES, NÃO, MENINO

Não te cuides, não, menino. As mãos tremem. Mal consegues segurar o café. Foste fazer de borracho a Montalegre, tiveste uma trip, e agora estás aqui a beber jornais. Não te cuides, não, menino. Ela espreita. Mostra os dentes. Senta-se ao balcão. Apetece-te agarrá-la pelos cabelos antes que a noite caia totalmente. Não te cuides, não, menino. Aceleras, começas a acelerar, não te controlas, e depois cais. Desta vez podes cair mesmo de vez, menino. Voltaste à idade da glória, àqueles momentos dos anos 80 e 90, sobra-te o cachet, tens dinheiro para estoirar. És o menino de ouro, como diz a tua Gotucha. Cuida-te, menino. Não te iludas com a vertigem. Ainda não tens exército algum atrás de ti. A maioria ainda acredita no Pai Natal e os mastins ainda mordem. Não te iludas com o povo na rua e com as greves gerais, menino. Não te armes ainda em prima-dona. A populaça dorme o que, por outro lado, é óptimo. O Otelo não está senil. Ainda tens amigos. Mesmo que te sintas só contra o mundo. Estamos de volta a Camelot, à Idade Média. Queres reapossar-te dos teus castelos. Ontem estiveste lá com o Isaque. Apetece-te rir mas não tens com quem rir. A Gotucha não está cá nem o Isaque. Só mortos que te oferecem jornais. És a prima-dona, menino. O senhor destas e doutras terras. Há apenas as criancinhas que protegeis. A nova humanidade que ides estragar com o vosso dinheirinho ou com a falta dele. Mas não. Desta vez não ides passar. O reino está próximo. Zaratustra vai encontrar o super-homem. Sois uns inocentezinhos mas gostais de ver uns tiros, um sanguezinho na televisão. Pode ser que os tenhais dentro em breve na vida real. Ri-te, ri-te, querida, dá de mamar ao bebézinho. Pode ser que me excites. Andam para aí a violar as velhas, esses gajos. Ao menos tu gostas delas frescas, menino. Sangue fresco, não é? Consegues ser o pior filho da puta à face da terra, menino. És o bardo do caos. Não estás só. Regressou a gargalhada sarcástica. Consegues meteer-lhes negro. Dás-lhes dinheiro e eles são amáveis contigo. As famílias regressam a casa. Tu já não tens horas. Libertaste-te da Gotucha. Aqui não sacas gaja. Até deixas os gajos botar discurso de fatiota, fazes papel de tímido, mas depois, depois, gozas com eles todos, come-los de cebolada ao pequeno-almoço. Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!Ah! Mas quanto mais bebes mais te enterras, menino. Vai lá ter com as gajas. Aqui não sacas nada. O farmacêutico, o Ricardo, é um bom homem. Cumprimenta-te sempre. Vá lá, menino, reclama as tuas quintas. O menino maluquinho, o desgraçadinho dos comprimidos está de volta. Vai ocupar esta terriola com um bando armado.

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