domingo, 18 de setembro de 2011

DA CRIAÇÃO


DA CRIAÇÃO



“O fenómeno da criação (…) é poético (…) no sentido em que se faz alguma coisa que nunca existiu até aí, nunca existira (…) revelando-se como primeiro exemplar ou exemplar único”, escreveu Agostinho da Silva. “Só atingimos a perfeição quando somos seres livres, pessoas que bebem no fundo de si mesmas, que se criam a si mesmas”, acrescenta Max Stirner.

A criação. O criar-se a si mesmo. Aprender a morar em si mesmo, como diz Stirner. Eis o que o artista faz. Vai buscar energias ao mundo mas se quer a santidade, se quer a perfeição, vai beber às profundezas de si mesmo, aos espíritos que vivem em si, aos desertos e abismos interiores.

Daí que o pensamento do criador não seja idêntico ao do comum dos homens. Ele é capaz de criar. Às vezes limita-se a descrever o que o rodeia. No entanto, noutras ocasiões acrescenta algo de novo, faz o exemplar único, aumenta a vida, como preconiza Henry Miller. No caso da literatura, ele inventa novas combinações de palavras. Cria o homem ideal, o homem espiritual. Então afasta-se do pensamento dito prático, da conversa do sustento e da conta, do raciocínio primário. A arte cria o ideal e “acha-se no princípio”, outra vez Stirner. A vida interior não tem que ser racional. Ela expande-se, explode, produz iluminações, quadros, imagens. Sai mesmo fora do mundo. Torna-se automática. A mão, a caneta, segue-a. É assim a criação, a aventura do eu, o reino de aquém e de além, o princípio.

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