domingo, 24 de julho de 2011

SANGUE REAL


Quem és? De onde vens? Quem te pôs no mundo? Certamente tens pai, mãe, família. Mas vieste para algo de maior, tens a tua loucura, persegues palácios, reinos de luz. Não, não és da populaça, do raciocínio primário, da sobrevivência. Vens em nome dos grandes, daqueles que são capazes de mudar o curso da vida. és o primeiro e o último dos homens. Estiveste com Merlin e Zaratustra. És da raça dos poetas. Cantas a mulher, cantas Madalena. Foste navegador, aventureiro de terra em terra. Agora estás aqui "com todas as crianças atacadas pela loucura". O álcool sobe no copo. Mexe com a alma. Os futebóis nada te dizem. És Hamlet. Ouves o teu pai. Tens delírios. Ouves as mulheres berrar com as crianças. Não suportas. Questionas tudo, o sentido da existência. És capaz de ser o melhor poeta das redondezas. Quando estás assim tocas o divino. Sentes falta de companheiros, companheiras. Muitos não estão à tua altura. Amas realmente a cerveja, o gás, o levá-la à boca. Cresceste nos bares. Nada a fazer. Não és da vida de todos os dias. Os jornais, de vez em quando, falam de ti. Não, tens algo de divino. Vieste com os profetas. Cantas o caos e a harmonia. Atravessaste as portas de percepção com Morrison, foste Marlon Brando no "Apocalipse Now". Não vais nos golos dos tolos. A conversa deles aborrece-te de morte. Odeias o tédio que te querem impor. Preferes olhar a mulher bela. Vais até ao fim da demanda. Definitivamente, não és como eles. és filho de Dionisos. Um rei num mundo de imbecis. Até no acto de beber és diferente. Uma puta dos tascos e do rock. Um homem da cidade. Um fora-da-lei. Um animal dos palcos e da vida. Á mesa do homem só. Um homem das mulheres. Um incendiário em potência. Um louco sem conversa. E o que interessa está dentro da garrafa. Do cálice. Do Graal. Não te soltavas na adolescência. Eras tímido. Agora és capaz de te revoltar contra a Criação. Apetece-te pontapear os carrinhos de bebé. Filho do rock n' roll e da revolução. Gastas o braço e a mão. Amas a mulher. És completamente fora. Ficavas aqui de cerveja em cerveja. Afinal de contas, nada tens a perder. Os outros começam a ter conversas loucas, inteligentes. Falam de triângulos e quadrados. Tu tornaste-te alérgico a eles. Contas os trocos. Tu também contas os trocos, ó divino! Deverias voltar ao surrealismo. Tens sangue real, miúdo. Sangue real.

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