quarta-feira, 9 de março de 2011

CAOS, OVAÇÃO


Eis o texto. Eis o texto sobre o homem livre que querias escrever. Divulga-o. Representa-o. Mostra-o ao mundo. Mostras-lhes que não és do relógio nem do trabalho. Mostras-lhes que só fazes sacrifícios em prol da revolução. Que aprendeste a lição de Nietzsche, Morrison, Miller e Rimbaud. És, de facto, o homem livre. Não temas o confronto. Não temas a praça pública. Começa, de facto, a chegar a tua hora. Para lá dos "Homens da Luta", dos Deolinda, da "Geração à Rasca", tu és mais livre, tu podes fazer melhor. Ouve a voz, o teu "gémeo". Começa a encher a Terra de filhos, de companheiros, de companheiras. Ouve o mundo. Lê o mundo como lês os teus livros. Faz-te ao mundo. Usa as conexões. Prega. Atira-te às feras. Sim, agora já te podes atirar às feras. Estás lúcido como nunca estiveste. Estás grávido de Luz e de Sabedoria. És capaz de dar à luz estrelas. Segue. Como ouvias os Pink Floyd aos 14 anos. Interpreta as letras. Segue. Podes derrubar o muro, o Faraó, o Cavaco. Não temas. Não tenhas mais medo. Estás na estrada larga, de Whitman. "We don't need no education".
Olha. Estás no deserto. Voltaste. Estás, de novo, só contigo mesmo. Dialogas contigo mesmo, como Miller aconselhava. O deserto é triste mas como é belo. Como és belo agora. Como voas sobre os homens. Como bebes a sabedoria. Como és aquele que brincava livremente. Segues a caminhada. Avistas os portões. Bates. Um mago abre-te a porta. É Morrison. REconhece-lo. Tocas-lhe os cabelos. Segues os seus passos. Sobes ao palco. És gozado, vaiado. Mas resistes. Gritas. Danças. Enfeitiças. És o xamã. Eles ficam parados. Olham-te. Começam a mexer-se, dançam ao teu ritmo. Recitas suavemente, em harmonia. Depois começas a contar as estórias da infância, da adolescência. Provocas-lhes a aceitação, o sorriso. Caos, harmonia. Caos, renascimento, harmonia. "Quando a música terminar, apaga as luzes/ porque a música é a tua amiga íntima/ dança sobre o fogo se ela te convidar". Estão em transe. Desfazes o transe. O espelho mágico. Caos, ovação.

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