segunda-feira, 7 de março de 2011

AI, OS MERCADOS!

A margem de erro é nula
Portugal está sob ameaça dos mercados e enfrenta semana de todos os riscos
07.03.2011 - 07:17 Por Sérgio Aníbal

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seguinte »Desde que, no início de 2010, começou a crise da dívida soberana do euro, o Governo português não tem tido semanas fáceis. Mas a que agora começa promete ser particularmente difícil.
José Sócrates com Angela Merkel em Berlim, no dia 2 de Março

(John MacDougall/AFP)

Nos últimos meses, descidas de rating, contágio de outros países, sinais de abrandamento da economia, indecisões dos líderes políticos europeus, tudo tem contribuído para que se mantenha, praticamente sem tempo para descanso, a pressão constante dos mercados sobre Portugal e a sua dívida pública. O problema é que todos estes ingredientes poderão estar presentes, em simultâneo, durante os próximos dias, fazendo desta semana, uma autêntica semana de todos os riscos.

A começar, logo em primeiro lugar, pelo que aconteceu no final da semana passada, ou seja, o pré-anúncio de uma subida de taxas na zona euro feito na passada quinta-feira por Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE. Na sexta-feira, os mercados já reagiram a esta notícia - que pode tornar ainda mais difícil aos países periféricos da Europa escaparem a uma recessão - com uma subida das taxas de juro das obrigações. Durante a semana que agora começa, este fantasma deverá continuar a estar presente na mente dos investidores. David Owen, um analista na firma de investimento da Citi, Jefferies International, afirmava sexta-feira à Bloomberg que um cenário de subida das taxas de juro do BCE tornava quase certa a necessidade de Portugal ter de vir a recorrer ao fundo de emergência europeu.

Depois, a partir de quarta-feira, logo a seguir ao Carnaval, tem início uma série de acontecimentos que podem, em maior ou menor grau, ser motivo de preocupação dos investidores, provocando por isso mais instabilidade nos mercados.

Logo nesse dia, o Estado português realiza mais uma emissão de dívida pública a médio prazo. Serão colocadas obrigações de Tesouro com amortização agendada para daqui a dois anos e meio, num valor que o Instituto de Gestão da Tesouraria e do crédito Público pretende que esteja situado entre 750 e 1000 milhões de euros. Será mais um teste à capacidade de Portugal para conseguir angariar investidores que queiram emprestar-lhe dinheiro, principalmente a prazos mais longos.

Até agora, o país tem conseguido encontrar procura para as suas emissões de dívida, mas à custa de taxas de juro progressivamente mais altas. Vários analistas questionam a sustentabilidade de uma estratégia orçamental que tem de suportar custos de financiamento tão elevados.

Política, em casa e na UE

Também quarta-feira, Cavaco Silva toma posse, um momento para relembrar que a estabilidade política em Portugal está longe de estar assegurada. Esse momento, em combinação com uma moção de censura ao Governo condenada ao fracasso no dia seguinte, deverá ser seguido com atenção por aqueles que temem que, a uma crise orçamental e económica, Portugal possa ainda juntar uma grave crise política. Em particular, todos os sinais dados pelo presidente da República e pelo maior partido da oposição vão estar, durante estas semana, sob os radares dos mercados.

Mas é na sexta-feira que chega o momento mais decisivo, a realização da cimeira extraordinária de chefes de Estado da zona euro em Bruxelas. O encontro destina-se a que a Europa encontre uma solução institucional que garanta que os países em dificuldades consigam, com menos problemas, recorrer às fontes de financiamento necessárias até ultrapassarem a crise. O problema é que o entendimento ainda não está alcançado. E uma coisa é certa, qualquer sinal - no dia da cimeira ou em dias anteriores - de que uma solução poderá não ser encontrada será motivo para os mercados penalizarem fortemente os países que são considerados como aqueles que mais precisam de ajuda. Nesse aspecto, Portugal continua na linha da frente.

Em ocasiões anteriores, as indecisões de política europeia foram motivo para reacções bruscas dos mercados. Em Maio de 2010, nas vésperas de um encontro de líderes europeus destinado a acertar o pacote de ajuda para a Grécia, os rumores de desentendimento levaram as taxas de juros da dívida pública portuguesa, irlandesa e espanhola a dispararem, forçando a UE a tomar decisões sob pressão.

Sócrates e Teixeira dos Santos têm repetido nos últimos dias a ideia de que é preciso uma solução europeia para que a pressão sobre Portugal se reduza, parecendo temer que algo de semelhante ao que aconteceu na cimeira de Maio aconteça agora.

Desconfiança permanece

Para tentar sobreviver a esta semana de todos os riscos, o Governo não está a poupar esforços para tentar dar todas as boas notícias que pode aos mercados e aos seus parceiros europeus. Logo nos primeiros dias deste mês, deu a conhecer números preliminares da execução orçamental de Fevereiro que apontam para uma redução da despesa face ao ano anterior. Sócrates levou estes números a Berlim como forma de tentar convencer Angela Merkel de que os esforços de consolidação estão a dar resultado.

De igual modo, no final da semana passada, o Governo decidiu pedir a sindicatos e patrões que assinassem um documento em que se comprometem a continuar as negociações destinadas a promover reformas no mercado de trabalho, uma das exigências mais repetidas pelos seus parceiros europeus. O compromisso dos parceiros sociais será levado por Sócrates a Bruxelas.

Para já, este tipo de boas notícias não tem sido suficiente para eliminar as desconfianças. As taxas de juro das obrigações de tesouro começam a semana coladas aos máximos. As agências de rating continuam a ameaçar com novos cortes na classificação atribuída a Portugal (avisando mesmo que este acontecerá quer não haja acordo na UE, quer haja um acordo que não satisfaça os investidores). E os próprios responsáveis europeus continuam a ter dúvidas em relação a Portugal. Ontem, Klaus Regling, o presidente do fundo de resgate europeu, disse que não esperava ter que dar mais ajuda a nenhum outro país da zona euro. Mas logo a seguir fez uma distinção entre Espanha e Portugal. "Já não vejo qualquer necessidade de ajudar a Espanha", disse, acrescentando que "Portugal ainda tem que fazer algum trabalho". Todas estas desconfianças fazem com que, para Portugal, não haja espaço de manobra para que, numa semana com tantos riscos, alguma coisa corra mal.

www.publico.clix.pt

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