quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DO ARTISTA-PROVOCADOR


A minha escrita tem mudado de estilo. Tenho escrito de uma forma mais leve, límpida. Isso não quer dizer que tenha abandonado as minhas ideias revolucionárias. No entanto, penso hoje que a linguagem marxista-leninista e mesmo algum anarquismo são muito rígidos, atribuem um papel messiânico à classe operária e aos trabalhadores e desconfiam dos intelectuais. Vejo com cepticismo o papel das pretensas maiorias. Penso até, como Nietzsche, que a maioria e a democracia burguesa são sinónimos de mediocridade, de primarismo intelectual, de rebanho. As revoluções serão sempre, pelo menos numa primeira fase, obra de minorias. Poderei eventualmente acreditar que um dia haverá um grande número de criadores, de mentes esclarecidas. Mas, neste momento, julgo que é a acção pela diferença que faz a diferença. Julgo que é ao artista-provocador, que se distingue do vulgo, da maioria, e aos pequenos (ou maiores) grupos revolucionários que não se limitam a marchar nas manifestações que compete fazer a diferença. Analisando a realidade, o artista-provocador fala uma linguagem diferente da da maioria, da da economia, ridicularizando permanentemente o instituído, utilizando a sátira, a graça, a ironia ou mesmo um tom mais duro. Enquanto os grupos revolucionários partem os vidros dos bancos ou enviam pacotes com explosivos, o artista-provocador-criador desmonta a lei do mercado e dos mercados, no palco ou na escrita, assumindo, portanto, um papel incendiário e chamando mais gente para a causa. Cremos ser esse o legado que Jim Morrison deixou. A sua revolução não é rígida nem dirigida como a dos marxistas-leninistas. A sua revolução é um hino à liberdade absoluta, um convite a que cada um pense por si e se afaste da idelogia dominante, castrante, mercantil e do pensamento da maioria. É do indivíduo, do artista, daquele que tudo põe em causa, e não das massas, da maioria, que nasce a revolta.

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