quinta-feira, 14 de outubro de 2010

EU NÃO ACEITO


EU NÃO ACEITO

António Pedro Ribeiro

Os mercados ainda não me contaminaram a mente. Sigo o caminho do bailarino, do homem livre. Apesar daquilo que me tentais espetar na cabeça todos os dias. Há alturas em que cedo, alturas em que me deixo levar pela conversa. Contudo, ainda sou capaz de me revoltar dentro de mim mesmo. Sou Quixote contra os moinhos. Não aceito. Não aceito. Posso até estar em baixo, posso até estar na merda, dizer que sim na aparência. Mas eu não aceito. Não aceito ver o Homem escravo dos mercados. Não aceito o homem caricatura de si próprio. O homem que quero não é o macaco que mercadeja, de que fala Nietzsche. Não aceito! Não vim ao mundo para isto. Posso até ser o único, ou um dos únicos, mas eu não aceito.
Já cometi muitos erros. Não sou nenhum santo. Mas eu não aceito. Serei louco, terei sido incoerente em várias ocasiões, mas eu não aceito. Podeis vir com cançonetas, poeminhas, que eu não aceito. Podeis inundar-me de imagens, de “big brothers”, de gajas boas. Eu não aceito. Podeis trazer-me TGV’s, aeroportos, SCUT’s, auto-estradas. Eu não aceito. Podeis embebedar-me com números, percentagens, cotações da bolsa. Eu não aceito. Podeis prometer-me estabilidade, sossego, emprego, segurança. Eu não aceito.
Não sou esse que quereis. Por vezes também sou dócil, amável, simpático. Mas não tenho que aceitar as vossas máximas. Amo o homem mas não tenho que me contentar com este homem, com a sub-vida dos mercados e das bolsas. Já falhei muitas vezes, não fui sempre aquele que ando a pregar. Mas não tenho que aceitar. Não sou deles- dos banqueiros, das finanças, dos governos. Muitas vezes nem sequer sigo uma lógica económica. Sou da liberdade. Mesmo quando permaneço aqui na “Motina” a espetar palavras no papel. Sobretudo aqui. Porque aqui sou completamente livre. Mesmo que isto continue a ser uma confeitaria e que os bolos e os cafés continuem à venda. Mesmo que os mercados estejam em todo o lado e também aqui.
No entanto, o bebé ri para a avó. No entanto, o bebé está vivo, respira a vida. E isso é a vida. E isso é o que realmente conta.

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