quarta-feira, 5 de maio de 2010

RIBEIRO NO JN


Livros
0 poeta no seu habitat natural
SÉRGIO ALMEIDA
sergio@jn.pt

Encontrar num real tantas vezes agreste elementos poéticos que concretizam uma aliança improvável entre o belo e o abjecto é o desafio que norteia os escritos de A. Pedro Ribeiro, cujo mais recente livro de poesia é um tributo ao Piolho, emblemático café portuense que celebra um século de existência. Se, como dizia Oscar Wilde, "estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas", há que saudar os que,como o autor de "Declaração de amor ao primeiro-ministro", mantêm um olhar inaugural sobre as coisas,um feito que a maioria perde como decorrer dos anos. Não significa isto que o poeta vive fora da realidade ou que abdique dela para se refugiar num mundo de sonhos, atractivo e glamoroso porque impossível de ser alcançado. Como explica o próprio: "Apenas elimino as partes da realidade que não me interessam". Numa altura em que se confunde poesia do quotidiano com a poesia da vidinha, apenas susceptível de interessar aos próprios, Pedro Ribeiro assume-se como alguém com a missão de narrar a vida tal como ela é. Sem interpretações fugidias e apenas com o desejo de fixar episódios que decorrem sob os nossos olhos, mas aos quais nunca damos importância. Num dos poemas, intitula-se"poeta de café". A designação faz todo o sentido - ali sentado durante horas, consegue manter sobre as coisas um olhar ao mesmo tempo distante e próximo. O seu trabalho consiste em observar o homem no seu próprio habitat,detectar as suas minúsculas manias de grandeza e escarnecer dos que vivem unicamente para o trabalho, convencidos de tal forma da sua própria importância que se esquecem de viver.«
--------------------------------------------------------------------------------

Filho do Maio de 68 que apela à revolta
UM POETA NO PIOLHO
A.PEDRO RIBEIRO CORPOS EDITORA

Nascido em Maio de 1968, no Porto, António Pedro Ribeiro licenciou-se em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto.Dos vários livros de poesia já publicados, destacam-se "Saloon" e "Queimai o dinheiro". A sua escrita, insubmissa e rebelde, apela ao combate sem tréguas em prol de causas. Além de poeta, é performer e autor do bloque Trip na Arcada.


JORNAL DE NOTÍCIAS, 26.4.2010

Sem comentários: