sábado, 17 de abril de 2010

O PRINCÍPIO DO MUNDO N' "A BRASILEIRA"

Ao meu pai, António.


Tenho em mim uma espécie de bondade,
mesclada com uma certa sacanice
um certo ar gingão, de provocação
e desafio
que já me custou alguns dissabores
que não me apetece recordar

mas dizia eu que tenho em mim
uma espécie de bondade
que me faz sentir próximo
dos bebés e das crianças
que me faz olhar para as mulheres
com ternura
que me faz amar o mundo
e os homens
certa face do mundo
e dos homens
certa face que, agora,
vem ao de cima
quando comes o bolo de chocolate,
pequena,
quando sobes a Avenida
quando permaneço nesta cidade
e desfruto desta cidade
quando o cidadão comum
não é um mero papa-bola
quando toco as tuas mãos
às cinco da tarde n' "A Brasileira"
quando a Palavra vem ter comigo
sem forçar coisa nenhuma
e sou eu próprio a Palavra
quanto trato o Marques pelo nome
e o Marques me traz a cerveja
quando o senhor da república
se sente à mesa da república
e as senhoras sorriem
e se preocupam com o semelhante
e quando os bebés trazem
a alegria do nascimento e da vida
e nos trazem coisas novas
que nós não conhecemos
quando o mundo
volta a ser como no princípio.


Braga, "A Brasileira", 10 de Abril de 2010.

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