domingo, 27 de dezembro de 2009

O MENINO


Não vim ao mundo
para fazer contas
revoltei-me contra as contas
aos 18/19 anos
quando andava na Faculdade de Economia
ia com o "Zaratustra"
para as aulas
comecei a chumbar

não vim ao mundo
sequer para a Razão
leio Platão
mas o xamã deu-me
a volta à cabeça
e depois a Gotucha
que também
não é deste mundo

não vim ao mundo
para trabalhar
para sacar dinheiro
para seguir uma carreira
não estou no mercado
não sou do mercado
da compra e venda
sou de graça
sou da Graça
sou da Glória
não tenho de ser contido
não tenho de ser pequeno
sou narciso
gosto de me ver no palco
gosto da ovação
do aplauso
serei egocêntrico
mas não sou egoísta
penso no mundo
quero o mundo
mas quero-o agora
não vou esperar mais dois mil anos
não vou esperar
pela revolução

Durante anos
fui acossado por longas depressões
tive de morrer e renascer várias vezes
ficava sem o verbo
sem a palavra
mas agora estou de novo
a caminho
agora estou de novo liberto
por isso, minha mãe,
não posso seguir
a via da norma e do estabelecido
por isso, mãe,
voltei a ser menino.

5 comentários:

Cachecol do Pintor disse...

eu não ia com o "Zaratrusta" para as aulas de Economia mas já escrevi por exemplo "O fecundar da carne ergue a casa pelos tornozelos
e a casa existe reflui e nós existimos no seu líquido de placenta" num exame de Microeconomia.

M. disse...

Ah, como sou banal…

Claudia Sousa Dias disse...

Pois...o Prof de "Micro..." deve ter tido uma erecção ao ler o exame do Cachecol...


csd

Cachecol do Pintor disse...

embora isso fosse bastante bonito, eu não escrevi propriamente na folha de teste....escrevi durante o teste ;-)

A. Pedro Ribeiro disse...

um belo poema para o exame de Microeconomia. Também tive essa cadeira. Era só gráficos e curvas. Não a fiz.