quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ILUMINAÇÃO


ILUMINAÇÃO

António Pedro Ribeiro

É de novo madrugada. E escrevo. Ao som dos Led Zeppelin. Não sei o que passa comigo. Será o Graal? Será o Quinto Império? Será o Jesus do padre Mário? Há várias noites seguidas que não prego olho. A música dos Zeppelin em vez de me fazer adormecer põe-me em cima. Apetece-me berrar. Acordar a aldeia toda. Despertá-los da vidinha e do trabalhinho de todos os dias. Bem era preciso um abanão desses. A ver se esta gente ACORDA. Dormem. Estão todos mortos e eu aqui cheio de pedal. ACOOOOOOOOOOOOOORDEM! Um desses berros à Jim Morrison. Para despertar as consciências. Para os fazer ver a vidinha estúpida e fútil que levam. Casa-trabalho-família e pouco mais. Estais mortos! Comunicais mortos. Amais mortos. Assim permanecereis por mil anos até ao romper do feitiço. Escrevi isto há muitos anos. E está cinco estrelas. E é a verdade. Estais mesmo mortos. Viveis mortos. A vossa vida não tem sentido. Por quanto mais tempo deixareis que vos enterrem a cara na merda? Por quanto mais tempo permanecereis mortos? Não escutais o amor, não vêdes o Graal, como eu? Porque não me seguis? Porque tendes medo da liberdade? Porque não me acompanhais? Porque não sois como eu? Será que sou feito de matéria diferente? Será que já estive morto e voltei à vida? Será que sou o cavaleiro do Graal? Porque é que tenho iluminações? Alucinações? Delírios? Mas é tão bom ser irmão dos deuses. É tão bom partilhar com os meus companheiros a Boa Nova. É tão bom ser humano. Não pensar nas coisas em que os outros passam a vida a pensar. É tão bom conseguir passar a mensagem. Conciliar Jesus com Zaratustra e com Artur. Esta noite renasço. Definitivamente, renasço. Não mais mesquinhez, não mais inveja, não mais rivalidades. Sou o rei que procura. Sou o poeta do bem e da eternidade. Estas palavras não são minhas: são-me ditadas por alguém que desconheço. Estou iluminado pelos deuses, como dizia Platão. E que importa dormir se estou às portas do paraíso? Que importa dormir se me estou a encontrar, a tornar-me naquilo que sou, como dizia Nietzsche. Era bom que este estado fosse eterno, que nunca mais voltasse à terra da bruma e da desolação. Mas eu tenho de regressar, de descer à montanha, de ir ter com a populaça ao mercado. Porque é o mercado que comanda tudo. E eu odeio o mercado e por isso tenho de o combater. Estou do lado da Vida.

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