quinta-feira, 9 de julho de 2009

O POETA QUE BEBE NO "PIOLHO"

Um poema mais para o livro
uma gaja bonita à minha frente
acaricia os cabelos
e sorri ao telemóvel
a depressão ataca
tento resistir
sou o poeta que bebe no "Piolho"
as palavras não vêm ter comigo
como há dias
mas ainda estou aqui vivo
e é isso que interessa
é isso que interessa, porra!
Mesmo que as gajas
se dêem a outros
mesmo que o mundo
nos seja adverso
o importante é que estou aqui vivo
sou o poeta que bebe no "Piolho"
amigos há que já partiram
amigos há que deixaram de aparecer
mas eu não deixo de ser o mesmo gajo
e o anão ao balcão
hoje não puxa pela selecção
mas bebe um fino
tal como eu
temos de aguentar a solidão
às vezes procuramo-la
as amigas não aparecem
nem sequer atendem o telefone
sou o poeta que bebe no "Piolho"
nem sequer estou assim tão em baixo
estive numa concentração pelos índios do Perú
e a polícia municipal apareceu
vêm aí as eleições
e eu não estou com aquela raiva
não suporto o primeiro-ministro
mas não vou votar no Bloco de Esquerda
já estive no Bloco de Esquerda e no PSR
já apanhei a minha dose
vou votar no PCP
apesar de achar que o discurso está gasto
bebo
sou o poeta que bebe no "Piolho"
não sou reformista
nem marxista-leninista
acredito no homem
enquanto criador
enquanto artista
e entra outra gaja bonita
acredito no belo
acredito em mim
sou o poeta que bebe no "Piolho"
o mundo deve-me dinheiro
o mundo deveria pagar-me as cervejas
e o jantar
o mundo deveria sustentar-me
e é isto que tenho para dizer agora
antes de me ir embora
sou o poeta que bebe no "Piolho"...


"Piolho", 8.7.2009

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