quinta-feira, 18 de junho de 2009

COMEÇO A VER A LUZ


Sim, eu começo a ver a luz
mesmo que a sociedade seja o que é
mesmo que a humanidade
caminhe para o fracasso
eu começo a ver a luz
a regressar à infância
sou como as crianças
que brincam livres no parque
isto é uma espécie
de segundo nascimento
tudo volta a ser gratuito
sim, começo a ver a luz
até amo as gajas
que comem batatas à minha frente
e o gajo simpático
que me cobra o café e a cerveja
bem, quase tudo volta a ser gratuito
como no princípio
vou voltar a casa
abraçar a minha mãe
isto é mesmo uma espécie
de iluminação
já vi os infernos todos
agora estou a regressar
não me vou pôr a gritar
que vi Deus ou Jesus
mas começo a ver a luz
como o Lou Reed
e hoje limitei-me
a ir cortar as barbas
e a ir até ao café
já diziam de Rimbaud ou de Baudelaire
que iam do céu ao inferno
numa só tarde
é evidente que a simpatia
do barbeiro e do tasqueiro
também contribui
mas não explica tudo
saio daqui mais senhor
mesmo já sem barbas
já passou a raiva
do poema anterior
mesmo que este seja o café da burguesia
eu começo a ver a luz...

Telha, 17.6.2008

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