terça-feira, 21 de abril de 2009

TÁCTICAS E ESTRATÉGIAS


Não fui ver a "Sociedade do Espectáculo" do Guy Debord ao Gato Vadio. Ontem no Clube Literário estava muito pouca gente mas eu encontrei o timbre certo. Acho que é essa a via certa com intervenções a propósito pelo meio. Senti-me mesmo à vontade, em cima. E a coisa, aos poucos, vai chegando a mais gente. Até vou ter uma intervenção junto dos meus companheiros anarquistas no 25 de Abril. Divirjo deles no que toca à posição face às próximas eleições legislativas. Vou votar contra o Sócrates e fazer campanha contra ele. Sócrates é arrogante, Sócrates tem tiques ditatoriais e, além do mais, é altamente suspeito de corrupção. As velhas comentam os bebés da Sónia Araújo. A gaja, ao balcão, acaricia a crica. Não há dúvida de que o sexo é receita segura. Falamos de sexo e quase toda a gente acha piada. Mas agora que se aproximam o 25 de Abril e o 1º de Maio tenho de politizar mais a coisa. Mas não devo enveredar pelo discurso saudosista do anti-fascismo e do pós-25 de Abril. Respeito o discurso e os personagens. Mas é preciso uma linguagem nova. E eu tenho procurado essa linguagem junto de Nietzsche, junto dos surrealistas, junto dos situacionistas e em outras fontes. Mas não descansarei enquanto esse cabrão de merda do Sócrates não sair do poleiro. Temos de chegar ao povo. Bem sei que estou a entrar em contradição. Bem sei que o povo é ignorante, bem sei que o povo é imbecil, bem sei que o povo é a gentalha e o homem pequeno de Nietzsche. Bem ouço o povo na confeitaria a discutir a vidinha, as telenovelas, os gémeos da Sónia Araújo, a família. "Estou-me nas Tintas (Primeiro os Meus)", como diz o António Manuel Ribeiro. Macacos que trepam uns por cima dos outros. Macacas que se reúnem na confeitaria a falar da vida alheia. "O pior dos animais anda à solta". São relações animalescas, no pior que os animais têm. Porque os animais são melhores do que nós em muitas coisas. É o "Macaco Nu" de Desmond Morris. Os poetas deveriam ser pagos a peso de ouro como os futebolistas. Qual a dierença entre escrever um poema e marcar um golo ou fazer uma finta? Qual é que custa mais? Qual é que dá mais trabalho? A verdade é que cheguei a um ponto em que posso olhar para trás. E a gaja que estava a coçar a crica abandonou o café sem eu dar por ela. Não vim, de facto, ao mundo para ganhar dinheiro. Não sou o cidadão comum, colectável, consumível, quantificável. Odeio o discurso da economia e da vidinha. Odeio os empresários, os banqueiros, os especuladores bolsistas, os governantes. Odeio mesmo. Porque sinto que eles me roubam a vida. Porque sinto que eles estão ao serviço da morte e do servilismo. Vivemos num mundo de mercadores e de merceeiros. A verdade é que me sinto mais senhor e que posso olhar para trás. Mesmo algumas pretensas asneiras que fiz tiveram a sua razão de ser. Tinha de passar por essas experiências. Tem sido uma existência de altos e baixos, claro. Não sou gajo de constâncias, de regularidades. Mas acho que, particularmente nos últimos tempos, tenho feito aquilo que deveria fazer. Sempre com altos e baixos, claro. Sou um gajo de explosões. Individualista no sentido do indivíduo soberano. Só tenho de chegar a mais gente. A mais companheiros. Talvez não precise mesmo da gentalha. Há gente que realmente só me interessa sociologicamente, enquanto objecto de estudo. Há gente que só me interessa enquanto material para o meu trabalho de escrita. Respeito-os enquanto seres humanos, cumprimento-os se me cumprimentarem, não deixo de ser amável, simpático. Mas é só isso. E só sou tímido enquanto sou tímido. Quando não sou, sou completamente desbragado. Apesar de me sentir de Braga. E a prosa já vai longa. O exercício de reflexão está feito. Sou um gajo de altos e baixos. Ou estou em baixo ou estou em cima. Sou como os interruptores. Não tenho mesmo de enaltecer o povo. O povo passa a vida nos "Shoppings" a passear. Às vezes também vou aos "Shoppings" mas eu vou lá micar as gajas e o resto. Não posso ter o discurso dos coitadinhos, das vítimas que passam a vida a olhar para a televisão e para o futebol, que fazem do futebol uma questão de vida ou de morte, de religião ou de diferença entre potência e impotência. E assim tenho dito

3 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

sim, não és do meio termo.

passam-se coisas muito interessantes na motina...


;-)


csd

A. Pedro Ribeiro disse...

ainda hoje mantive uma conversa interessante sobre a D. Rosa.

A. Pedro Ribeiro disse...

perdão, com a própria D. Rosa.