quinta-feira, 23 de abril de 2009

NA GUERRILHA


Fui a Famalicão e só lá deixei 70 cêntimos. O comércio famalicense deve andar chateado comigo. É claro que lá fui por causa do amor e não do comércio. Aliás, já ando para aí a proclamar que estou à margem do espírito e do sistema moedeiro e merceeiro. Não deixo de ser coerente com as minhas teses. Sou coerente no meio da minha incoerência e da minha loucura. Não estou no meio do mato ou da floresta a combater, na guerrilha. Não tenho de seguir qualquer disciplina rígida. Combato com as palavras, é certo. Mas aí não sou disciplinado embora persiga objectivos concretos. O Che e outros combatem na guerrilha e a guerrilha não tem nada de romântico. Passas fome, passas por várias privações, ou matas ou morres. Faziam-se até fuzilamentos por muito criticável que isso possa ser. Gosto muito mais de andar de comboio do que de metro. Prefiro os revisores áquelas máquinas que às vezes falham e aos controleiros que aparecem quando menos se espera. Não gosto de controleiros por muito que admire Fidel Castro e Hugo Chávez. Há situações de resistência em que é preciso controle e disciplina, admito. Mas esse não tem sido o meu departamento. Sempre que seguia uma disciplina mais tarde ou mais cedo acabava por rompê-la. Aconteceu isso nos partidos. E cheguei a receber sanções por causa disso. Nos partidos há hierarquias, há controle e eu já não vou nessa cantiga. O Jerónimo, o Louçã seguem a via deles e eu a minha. É essa a questão. Cada um desempenha o seu papel. Eu tenho a vantagem de não ter as ditas responsabilidades de direcção, de não ter nada e quase nada a perder. Posso dizer ou escrever aquilo que quero e quando quero. A questão é a mensagem passar, ser ou não publicada ou divulgada. Eu já tenho conseguido furar a barreira. É claro que depende do público que temos. Não vou dizer um poema pornográfico perante uma plateia de senhoras de 70 anos. Tenho sido, de facto, mas particularmente nos últimos anos um guerrilheiro à minha maneira, um guerrilheiro da palavra. Temos é de escolher bem quem vamos raptar. Há pessoas, indivíduos, mercadores, de quem não tenho pena nenhuma. É triste vermos, como o Che, que os camponeses não nos apoiam ou que até nos traem. Eles não entendem que estamos a lutar por eles. Que queremos dar-lhes comida, assistência médica, ensiná-los a ler e a escrever.

5 comentários:

AF disse...

Começou quase bem, um toque de rejeição de violência revolucionária... mas lá descambou outra vez, para o paternalismo do costume, "ai o caraças dos camponeses, não compreendem o el comandante, ainda acabam por trair o gajo"...
Que bela porra, olha o grande respeito, tolerância e apoio revolucionários; é o velho 'bora lá amar os pobres, tomem lá, e à força se preciso for, nós sabemos o que é bom para a vossa tosse, e vejam se dizem obrigado, se não, ainda apanham com um pelotão de fuzilamento em cima, para disciplina das hostes'...
É por estas que estes revolucionários metem medo, não é pelas palavras.

A. Pedro Ribeiro disse...

caro AF,
há países, entre os quais os EUA, que ainda mantêm a pena de morte. Eram fuzilados guerrilheiros que traíam a guerrilha e iam violar camponesas. É discutível, é certo, mas é compreensível no contexto da guerrilha. Não eram fuzilamentos a torto e a direito. Houve muito pouca gente tão humana como o Che. Não tenho pena nenhuma dos capitalistas e dos banqueiros. Eles também me tiram a vida. Não há paternalismos.

AF disse...

Toda a gente tem telhados de vidro; é essa uma das razões para evitar as espingardas sempre que se possa, só fazem mais cacos e esqueletos para armários...
O el Che era humano, concedo, e eu também tem dias que sou (e já ouvi dizer que até os banqueiros têm famílias... mas nessa só acredito quando vir fotografias). E o homem estava seguramente carregadinho de boas intenções, é verdade (vaidade também mas, lá está, os comandantes-homens tendem a ser homens-comandantes).
Mas quantas gerações tiveram vidas mais tristes por causa destes iluminados presumidos que as tentaram 'libertar'? Essas prisões, esse sofrimento, não ensinam nada? Por muito que custe (sem ironia), não será melhor promover a evolução de todos do que forçar a revolução? Sobretudo se liderada pelos que não têm dúvidas e, quando se enganam, desatam à fuzilada?
Mesmo que o amor, a educação, o crescimento, a libertação, sejam inerentemente violentos - e parece-me cada vez mais que sim; mas é outra história, não?

AF disse...

E, hoje, comemoremos uma revolução que nos trouxe mais - e não menos - liberdade! Viva o 25 de Abril!

A. Pedro Ribeiro disse...

permaneço anarquista-guevarista. Agora a Interpol e o Sócrates já me consideram terrorista. A mim e a outros. Lê o Diário de Notícias de 25 de Abril de 2009.