quinta-feira, 5 de março de 2009

O POETA QUE BEBE E ESCREVE


Volto ao "Piolho"
e bebo à minha
saiu-me um peso dos ombros
estava a ver que ia car
mas afinal não
a confiança regressa
tal como a prosa
apesar de hoje não ter amigos
no "Piolho"
há gajas bonitas de boné
brindo à vossa
estou, de novo, em estado de graça
já não vou para a cama cedo
nem passo a tarde a dormir
a vida chama
e a cerveja vem
vou ao "Púcaros"
cantar a boa nova
estou novo, como diz o barbeiro,
e pronto para outra
que está a sair
-diz o empregado
que desliza pelo café-
e há quem peça águas
quem leve vida regrada
e se levante cedo
e se deite cedo
quem não vai aos bares
beber como eu
e tudo gira em torno de mim
as estudantes bebem fardadas
acho que começo a apreciar mais
esses rituais
afinal de contas, não perdi nada
nem devo nada a ninguém
sou o poeta que bebe e escreve
aquilo que vem à cabeça
aquilo que desliza na veia
aquilo que não passa na TV
sou o poeta que bebe e escreve
às vezes os jornais
vêm ter comigo
saber de mim
contar as histórias
que andam por aí
sou o poeta que bebe e escreve
não sou menos do que tu
nem mais
apenas o gajo que anda por aí
sou o poeta que bebe e escreve
cortei as barbas e os cabelos
o barbeiro cada vez gosta mais
de mim
e a cerveja está no fim
não há cacau para mais
e ainda é cedo
para ir ao "Púcaros"
tenho de continuar aqui
o que importa é que passei
esta crise
e a palavra sai.