segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

O ÚLTIMO DOS ROMÂNTICOS


O último dos poetas românticos

escreve

em público

virado para as meninas

vidrado com as meninas

com os cabelos das meninas

com o vinho das meninas


Bacantes à minha mesa

asceta das montanhas

anjo em chamas

Dionisos sem cheta


Ficar ou partir

entre a maternidade e a loucura

entre a normalidade e a amargura

escreves em público

entre os poetas da moeda já não se usa

foge a boca para a garganta

para a barriga para a botija

sem gás cheio de gás

estás e não estás

vens da idade que não tem idade

do Uno Primordial

não daqui nem dali

mas de Dali para sempre

do lago do antigamente

já não suportas as conversas

do habitualmente

só queres mamas cona sexo

animal que lambe

e sobe

o teu corpo

o teu copo

animal de palco cantor

mais um copo

para acabar de vez


a penar no lazer capitalista

a pinar o artista

o sorriso do contabilista

até à desgraça

minha graça

mi madre

mi cabeza

mulheres em mim

que vai ser de mim?

Una mas, até ao fim.


A. Pedro Ribeiro, Vila do Conde, 1. Dez. 2006.

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