quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

O Lorinhao Escorreito

O que e o suplicio de Tantalo?
E uma luz muita intima que me aquece a noite.
O que e o suicidio?
E descer lentamente com o vagar de quem sobe.
O que e o amor?
E uma rua muito sossegada onde so se passou uma vez.
O que e muita fome?
e um tinteiro de prata cheio de sangue.
O que e a nobreza?
E o vento vindo dos bosques.
O que e a coragem?
E uma igreja dentro duma noz.
O que e um galo?
E uma dilataçao na parte posterior da cabeça.
O que e a razao?
E uma carta vinda de longe.
O que e a noite?
E um texto muito antigo entoado por uma multidao de sapos.
O que e o destino?
E o amor a todo o comprimento.
O que e a infancia?
E uma ilha que emerge rapidamente.
O que e a pintura?
e um banho turco prolongado.
O que e a monarquia?
E um saco cheio de pedras a pedir que o carreguem.
Quem e a tua mae?
e um mendigo que espera pela noite para rir.
Que somos nos?
Os olhos de um passaro morto em viagem.
Que esperamos?
A tua esperança.
Que fazemos?
O dia.
Quem era Antonio Maria Lisboa?
Um oraculo distraido que nunca disse a verdade.
Onde vivia?
Ao colo de uma estatua de farinha.
Porque vivia?
Porque houve quem o quisesse matar.
Excerto de Cadaver Esquisito.

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